domingo, 20 de outubro de 2013

O dólar de sangue - capítulo 3


Jorge luta para digerir as palavras de Malcom e se debate por não ter pensado antes que provavelmente Brenna seria parente dos McCann, apenas pessoas próximas a eles trabalham no bar e nos açougues.
Por cerca de dois minutos, Jorge ficou imóvel, conseguia ver a cara de nervoso de Malcom gritando e batendo na mesa, porém, não ouvia nada. De repente apenas vê o grandalhão levantar e se preparar para socá-lo na cara, por mais que pudesse reagir e se defender, Jorge parece estar em outra dimensão, o soco  acertou bem no nariz, a força e velocidade arremessaram Jorge para trás, fazendo com que ele voltasse a si. Sente o sangue saindo do nariz, encharcando seu bigode, contornando sua boca e pingando em sua gravata. Jorge limpa seu nariz na manga de seu terno e diz para Malcom:

 - Bela direita.

Enquanto levantava seu joelho, para ficar de pé, o capanga de Malcom rapidamente tenta socá-lo de novo, Jorge chuta a perna do brutamontes, que cai na direção de Jorge que acerta uma cotovelada rápida no grandalhão que cai desacordado. Malcom exclama irritado:

- Desgraçado -E projeta mais um rápido gancho, acertando Jorge no queixo, que cai desmaiado.

Jorge se lembra de seu padrasto usando o habitual kimono preto e falando: "Nunca menospreze a velocidade de um homem grande", algo que dolorosamente acabara de se lembrar.

Jorge desperta com um banho de água fria, arremessado de um balde por um capanga de Malcom. Além de sentir seu nariz sangrando, agora seu lábio está inchado como uma bola de beisebol  e percebe que está com as mãos amarradas e pendurado. O grandalhão se vira para Malcom e diz:

- A bela adormecida finalmente acordou.
-  Vejo que seu supercílio gostou do meu cotovelo - retruca Jorge.
- Cala essa boca, quero ver tentar fazer alguma coisa agora - Exclama o capanga.
- Os dois calem a boca - Diz Malcom irritado - Vou perguntar mais uma vez detetive, o que fazia com a foto da minha afilhada?
-  Ahh você sabe Malcom, sempre gostei de uma ruivinha.

Malcom soca a barriga de Jorge com uma força descomunal, que o faz cuspir sangue.

- A quanto tempo você não a vê Malcom?
- Desde a noite passada, ela trabalhou na taverna até as três da manhã e depois foi pra sua casa. Por que perguntas?
- Tire a ultima foto do bolso de dentro do meu terno - Diz Jorge
- Minha santa bárbara - Exclama o brutamontes. - De quando é essa foto?
- Ontem a noite, estou investigando o caso dela e outros casos parecidos, vim buscar informações pois soube que ela trabalhava aqui.  - Diz Jorge - Pode me soltar agora?
- Tudo que sei é que ela trabalhou até ontem comigo e foi para casa.
- Me leve a casa dela mas antes faça o favor de mandar esse idiota me soltar. - Exclama Jorge.

Malcom manda seu capanga desamarrar Jorge, assim que sua mãos são liberadas Jorge abotoa sua camisa e coloca lentamente seu terno.
O apartamento de Brenna ficava num prédio antigo, próximo a taverna, Malcom tinha uma cópia da chave. O lugar era grande e bem organizado, a cama estava bagunçada, algo que apenas Jorge percebeu e que o deixou intrigado, porém, não comentou nada.
Malcom dá algumas voltas no apartamento e para na sacada exclamando:

- Ela morou comigo até os dezenove anos, foi quando começou a trabalhar na taverna. Ofereci a gerência de um dos meus açougues, mas ela não quis envolvimento com meus negócios. A criei como uma filha depois que os pais dela voltaram para Irlanda.

Jorge olha uma das fotos dela que estava em quadros, era incrivelmente diferente das fotos dadas pelo inspetor, o rosto era o mesmo, porém, tinham algo de diferente. Jorge percebeu através dessas fotos que o rosto de Brenna era familiar, ele já a tinha a visto em algum lugar, mas não se lembrava onde.
Malcom e seus capangas saem do apartamento, deixando Jorge sozinho. Ele dá mais uma volta, procura por algo que pudesse servir como uma prova ou alguma dica de onde ela esteve ontem a noite. Um chale escuro que estava em cima da mesa chamou sua atenção, nele tinha algumas gotas vermelhas, aparentemente frescas. Não era sangue, mas se parecia mais como molho de pimenta. Jorge exclama

- Oh merda.

Jorge sai correndo do apartamento, já era quase de noite, seu destino era o necrotério da cidade que ficava meio longe do bairro irlandês. Jorge entra na estação do metrô e do outro lado da estação percebe a jovem loira que ele sempre vê pela manhã, descendo de um vagão, ela olha ele de longe e dá um breve comprimento com a mão, provavelmente ela mora no bairro e está voltando do trabalho. O metrô de noite tem um tom mais assustador, o silêncio dos vagões quebrado frequentemente pelo atrito dos trilhos faz uma verdadeira sinfonia infernal na cabeça de Jorge.

A estação em que ele desce chama-se Istambul, o necrotério fica praticamente na frente. Jorge entra e diz para o atendente:

- Boa noite, eu gostaria de ver os corpos que chegaram ontem a noite e hoje pela manhã  - Jorge mostra seu distintivo.
- Claro detetive, siga o corredor a direita até a primeira porta a esquerda, eles estão ali. - Responde o atendente.

O corredor escuro do necrotério dá um visual mais horripilante ao lugar, Jorge entra na sala e pergunta a um médico legista que está no local:

- Gostaria de ver o corpo de Brenna Theodor, mulher ruiva, aparentemente 25 anos, morta com um tiro na cabeça, deve ter chego hoje pela manhã.

O legista começa a suar frio e tremer os bisturis que segurava nas mãos e  responde a Jorge:

- Só um pouco detetive, vou pegar o relatório dos corpos que chegaram ontem.

O médico entra numa sala ao canto, demora cerca de vinte minutos até que Jorge decide ver o que está acontecendo. Encontra o legista, revirando os papéis, ao vê-lo saca uma arma escondida em baixo de um caderno e diz:

- Nem mais um passo.
- Ohh, pra que tanto nervosismo doutor, apenas quero ver o corpo. - Responde Jorge.
- Seu idiota, por que tem que revirar tudo como um porco revira o lixo, não pode simplesmente morrer numa sarjeta engasgado pelo próprio vômito. - diz violentamente o médico.
- Porcos não reviram o lixo doutor, o senhor quis dizer cachorros ou ratos. - Jorge ri e continua - vou te dar uma chance de sair daqui andando e possivelmente respirando, apenas me mostre o maldito corpo.

A arma na mão do doutor começa a tremer juntamente com seu braço. Jorge percebe um movimento atrás dele, coloca discretamente a mão na cintura para sacar a arma, porém, um tiro acerta o médico na garganta, que cai esparramando sangue por todo o lugar. Jorge olha pra trás e vê alguém correndo. A pessoa é aparente gorda e está utilizando uma mascara que encobre o seu rosto, rapidamente Jorge a alcança e acerta um chute nas suas pernas, o homem cai no chão apontando a arma para Jorge, que o desarma quebrando o dedo indicador do atirador.

Enquanto o homem grita, Jorge aponta arma e diz:

- Tire a mascara agora.
- Vai a merda - exclama o homem.

Jorge senti que conhece a voz, mas atira no joelho direito do homem, que grita e diz:

- Você atirou no meu joelho, seu lazarento.
- Vou atirar no outro se não tirar a maldita mascara - Responde Jorge.

O homem lentamente tira a mascara, Jorge fica em choque quando percebe quem é.

- Olá Jorge.

O atirador era o inspetor. 

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