domingo, 3 de novembro de 2013

O dólar de sangue - Capítulo 5.


O barulho das sirenes começa a tocar ao fundo, provavelmente Jorge tinha mais dez minutos para sair daquele lugar antes que os policiais da cidade inteira viessem prendê-lo, pelo som eram poucos viaturas, provavelmente duas ou três da corregedoria. Jorge calmamente pega algumas armas e coloca em sua bolsa, juntamente com alguns socos ingleses  e um taco de beisebol, que era a ultima lembrança que tinha de sua mãe, mas decidi ficar no apartamento. Lentamente coloca um pouco de Jack Daniels em um copo e começa a tomar enquanto fuma um charuto, lembra que tinha um pouco de pipoca em casa, coloca um pouco de óleo na única panela que ele tinha, acende o fogo e coloca os grãos. Percebe que estava certo, eram as três viaturas da corregedoria, o capitão deles já tinha um histórico de problemas com Jorge, um tempo atrás ele tentou rebaixa-lo de cargo por conta de uma briga de bar, mas o comissário de polícia sabia que perder seu melhor detetive era suicídio e não autorizou, então Jorge acertou um belo gancho no queixo do capitão, que perdeu dois dentes. 
Os policiais entraram no velho prédio como um bando de urubus atrás de carniça, enquanto isso, Jorge prendeu o suspensórios na calça, arrumou sua gravata e colocou o habitual sobretudo preto. Dessa vez colocou seu 38 no coldre que havia ganhado do seu padrasto e coloca duas pistolas na parte de trás da cinta, o soco inglês já estava ajustado entre seus dedos e deixa o taco de beisebol próximo a sua cadeira.
Rapidamente a polícia bate na porta, o capitão grita:

 - Jorge, abra essa maldita porta ou vou ter que arrombar.
- O Jorge não se encontra, diz que está numa praia no Rio de Janeiro tomando água de coco e cosando a barriga com duas belas morenas - Responde enquanto dá uma ultima golada em seu Whisky.

Um policial enorme, que tinha por volta de uns 2 metros de altura derruba a porta com um pisão, o capitão entra logo em seguida e aponta a arma para Jorge, dizendo:

- Mãos na cabeça detetive e prometo não usar força bruta se você cooperar.

Jorge fica em pé, usando o taco de beisebol como apoio e diz ao capitão:

- Você sabe que no fundo tudo isso é uma armação, realmente você acha que eu mataria aquele gordo inútil que era o inspetor?
- Não tenho tempo para seus joguinhos. Vou dizer de novo, coloque as mãos na cabeça e cale essa boca.
- Pra que tanta rigidez capitão, sente-se vamos tomar um Whisky antes, você me conta como anda seus dentes novos, damos risada e depois decidimos pra onde vamos.

A pipoca que estava no fogo estourou, quebrando a tensão que estava no apartamento, atraindo a atenção de todos os policiais, inclusive do capitão. Jorge rapidamente acertou uma tacada na cara do capitão, que caiu desacordado, aproveitou o mesmo giro e arremessou o taco no rosto do grandalhão. Um policial que estava no canto segurando uma calibre 12, tentou acertá-lo com a parte de trás da arma, Jorge segurou e acertou um gancho no queixo, seguido por um pisão na barriga do homem, que caiu com violência para trás. Os quatro policiais que estavam fora do apartamento entraram de forma desordenada, Jorge arremessou uma cadeira, que derrubou as quatro de uma vez só, um deles perdeu o equilíbrio e caiu escada a abaixo, os outros três vieram para cima de Jorge , um deles levou logo um cruzado na rosto e caiu como uma madeira, outro acertou um chute, arremessando Jorge na parede, nesse momento ele decidiu que era hora de sair dali, sacou uma das pistolas e acertou um tiro no pé de cada um, que caíram gritando. Jorge então pegou sua mochila e saiu desviando dos corpos desacordados dos policiais, o brutamontes que havia derrubado a porta estava começando a voltar a si quando Jorge acertou uma coronhada com a arma e ele voltou a ficar desacordado. 
Quando Jorge entra no corredor, percebe que todos estavam olhando, ele faz uma cara de feliz e diz:

- Tem pipoca ali dentro, quem quiser pode ir pegar. 

As pessoas voltaram para seus apartamentos visivelmente assustadas com o quebra- quebra que acabaram de ouvir. Jorge sabia que agora era foragido e que teria que provar sua inocência, ele passa pela portaria do prédio e pega uma cartola que estava jogada em cima de um sofá, decidi entrar na primeira taverna que encontra e vai até o banheiro, limpa o sangue de suas mãos e lava o seu rosto. Do nada surge um homem que cuidava do banheiro, ele olha bem para Jorge e diz:

- Noite difícil?
- Um pouco - diz Jorge
- Pelo visto foi pior para quem se meteu com o senhor - disse o homem apontando para os dedos de Jorge com a marca do soco inglês.
- Ahh isso não é nada,  tinha que ver como ficou meu apartamento. - Jorge tira a cartola, o sobretudo e o coldre.

O homem faz cara de assustado mas Jorge o acalma:
- Relaxa, eu sou policial, ou costumava ser. 
- Ahh me lembrei da onde o conheço, o senhor esteve neste bar a uns 4 dias, estava com uma mulher ruiva muito bonita. - diz o homem.

Jorge fica pensativo por um momento, por que não fazia sentido ele ter estado naquele bar com Brenna Theodor, isso gera uma irritação momentânea nele, que acaba socando o espelho.

- Eu disse pra onde ia? Ela estava me fazendo companhia? Eu saí do Bar com ela? - Pergunta Jorge ao homem
- Ohh Ohh calma ai chefe, só estou dizendo. O senhor estava visivelmente bêbado e disse que ia para um motel com a mulher.

Jorge coloca novamente o coldre, o sobretudo e a cartola e sai correndo da taverna rumo ao motel quem que ele havia acordado naquela manhã, pega o primeiro metrô rumo ao centro da cidade, quando as portas se fecham ele vê aquela moça loira chegando correndo a plataforma e não conseguindo pegar o metrô, ela dá um breve sorriso para Jorge, que retribui.

***

Ao entrar no hotel da 5ª avenida com a estação Lisboa, onde Jorge tinha se hospedado na noite do assassinado de Brenna, ele logo reconhece o balconista do bar, um homem magricela, de estatura mediana, cabelo loiro claro e barba falhada, possivelmente polonês . Jorge apoia-se no balcão e diz para o balconista:

- Eu estive hospedado aqui, quatro noites atrás, cheguei bem bêbado e lhe dei uma gorjeta de 200 dólares.
- Desculpe senhor, não me recordo. - Diz o balconista.
- Pela manhã conversei com você, acabei deixando o quarto muito bagunçado - Retruca Jorge. 
- O senhor deve estar enganado, com licença está hora do meu intervalo 

Jorge segura o homem pelo braço e dá uma leve jogada no sobretudo para o lado expondo o revolver calibre 38 e o distintivo de polícia. O balconista dá uma engolida seca, puxa o braço com força e consegue sair correndo, Jorge vai atrás. O homem entra num beco que ficava na lateral do motel porém, tropeça numa lata de lixo jogada, caindo de boca no chão, Jorge aproxima-se dele e diz, enquanto coloca o soco inglês entre os dedos da mão direita:

- Posso refrescar sua memória ou você pode cooperar e quem sabe se livrar dessa.
- Ele disse que ia me deportar de volta pra Polônia, minha família foi perseguida, não tinha opção - Disse em desespero o balconista.
- Quem disse? 
- Dois homem vieram aqui na noite anterior e me ameaçaram, era um baixinho gordo meio careca e o outro era elegante usava um terno branco, tinha cabelos escuros e usava um cavanhaque, ahh e tinha um anel dourado no dedo indicador direito. 
- E eles fizeram você fazer o que? - Disse Jorge irritado.

O homem tentou novamente fugir, mas Jorge apenas teve o trabalho de arremessar a tampa da lata de lixo nas pernas dele, e o homem caiu novamente no chão. Dessa vez Jorge sacou a arma e perguntou:

- Vou tentar novamente, eles fizeram você fazer o que?
- O senhor chegou carregado naquela noite por dois homens bem grandes, um era ruivo e outro era negro, eles colocaram o senhor no quarto e depois foram embora.
-Não cheguei acompanhado de uma mulher ruiva?
- Não senhor, isso é tudo que aconteceu eu juro, não ia fazer isso até porque o senhor é policial, mas os homens eram importantes e ameaçaram deportar minha família, além do mais o prefeito prometeu....

Jorge interrompeu bruscamente o homem:

- Prefeito?
- Sim, o homem com terno branco dizia ser o vice prefeito. 
- Ohh deus, venha comigo.

Jorge pega o homem pelo pescoço e começa a andar de volta para o motel, ele sobe as escadas e vai para o quarto onde tinha ficado hospedado, começa a vasculhar tudo, tira o colchão da cama, olha a pia, em torno da banheira e bem ao lado do vaso, próximo ao um cano percebe algo brilhante. Jorge se estica para pegar, era o dólar australiano.

***

Finalmente as coisas estavam se interligando, mas Jorge ainda não tinha como provar tudo isso e não sabia nem mesmo em quem deveria confiar, os dois homens grandes que o carregaram até o quarto deviam ser os irmãos McCann. Se o vice prefeito estava envolvido, provavelmente era a mando do prefeito, só existiam duas pessoas a quem Jorge podia recorrer, uma era o comissário de polícia, porém a sala dele ficava no quarto andar da delegacia de polícia e outro era um repórter conhecido, aquele que Jorge havia esmurrado.

De repente passos rápidos são ouvidos subindo as escadas e logo em seguida uma batida forte na porta. Jorge saca a arma e o balconista se esconde atrás dele, mais uma batida, dessa vez a porta se abre violentamente e entra James McCann por ela, segurando um pedaço grande de pau e seguido por quatro capangas.
 Jorge sem hesitar dispara os seis vezes o revolver, acertando dois capangas no peito, outro levou um tiro raspão no braço e James é atingido no braço direito, Jorge saca a arma escondida na parte de trás da cinta e aponta na cabeça do brutamontes e pergunta:

- O que quer James?
- Malcom quer falar contigo, é melhor se apressar, ele disse ser importante.
- Vou fazer uma visitinha pra ele, soube do envolvimento de vocês na tentativa de me colocar, injustamente, atrás das grades, mas agora isso deixou de ser profissional, é pessoal.
- Você sinceramente achou que ferrar com todo comercio de armas da cidade ia apenas atingir o bairro irlandês??? Tem muito mais gente grande envolvida com isso eles querem a sua cabeça. 

Jorge guarda sua pistola novamente atrás da cinta, recarrega seu calibre 38, aponta para a cabeça de James e atira.